quarta-feira, fevereiro 09, 2005

A PARTICIPAÇÃO DOS JOVENS NA POLÍTICA: INSTRUMENTALIZAÇÃO OU INDIFERENÇA?

Com alguma atenção tenho procurado acompanhar a vida política nacional, apesar do distanciamento à lógica partidária, de quem procura ser o mais livre e aberto às concepções ideológicas. Tenho para mim, e creio que para muitos de nós, que a política, feita com consciência, sustentada em valores e na busca da realização do bem comum, é das mais nobres missões que afectam a vida em sociedade. Aristóteles tinha razão quando afirmava que o homem é um animal político, na medida em que está inserido na «polis», e que tudo o que se relaciona com a «polis» tem reflexos na vida individual. Justamente por isso vejo com relativa perplexidade o alheamento, nuns casos, e a instrumentalização, noutros, da juventude em relação à política. E aqui refiro-me à política lato senso, que inclui a participação na vida pública e cívica da sociedade em que nos inserimos. É que hoje, cada vez mais, o espaço privado está reduzido e, em consequência, a felicidade e a realização de cada um de nós está significativamente dependente das políticas e decisões públicas. Desde as decisões tomadas ao nível do centro político até às decisões locais, ou do nosso emprego, ou da nossa escola, etc. Deste modo, a nossa apatia em relação à política e à vida pública acaba por ser um «cheque em branco» àqueles que decidem o nosso destino. Ao contrário, quando nós participamos estamos a concorrer positivamente para que as decisões que vierem a ser tomadas sejam mais razoáveis e justas. É evidente que o problema do alheamento dos cidadãos da vida pública não é um fenómeno exclusivo da nossa sociedade, o mesmo, também, se verifica nas democracias mais consolidadas. Mas seria um erro grosseiro equiparar a nossa emergente democracia àquelas democracias, designadamente as democracias ocidentais, porque os problemas que se colocam são diferentes. Por exemplo, a despeito do distanciamento dos jovens da política nas sociedades ocidentais, a verdade é que os mecanismos de funcionamento da democracia estão enraizados e funcionam, além de que os processos de tomada de decisão naquelas sociedades passam necessariamente pela auscultação dos cidadãos. Seja como for, e mesmo reconhecendo que é um fenómeno preocupante o que ocorre com os jovens angolanos, não vejo com extremo desassossego a indiferença dos jovens em relação à política, porque considero que há «gérmenes» que são indicadores positivos e que prenunciam - quero crer - uma nova fase. E digo isto não por mero optimismo, não! Há factos que atestam a minha justa fé no futuro das gerações em que me revejo. Porque senão o que dizer do número cada vez maior de jovens que participam na vida pública, a título de exemplo: nas organizações cívicas, nas associações académicas, nas organizações de direitos humanos, nas associações culturais, ambientais e desportivas? O que dizer do número crescente de jovens que estão hoje a despontar ao nível do jornalismo angolano? O que dizer dos jovens que começam a afirmar-se ao nível empresarial? Poderíamos decerto citar vários exemplos, que não nos podem deixar à vontade quando, ainda, a esmagadora maioria está marginalizada. Provavelmente é mais fácil - para quem assiste a um elevado número de crianças e adolescentes fora do sistema de ensino, a falta de universidades capazes de acolherem tantos jovens desejosos de a frequentarem, a falta de emprego, a falta de condições sociais mínimas ao nível do saneamento básico, da saúde, da habitação -, concluir que, perante esse quadro sombrio e face ao fardo enorme que a actual geração dos governantes nos vai legando, estamos perante um dilema fatal: ou «revolucionamos» esse quadro ou estamos condenados a uma sociedade catastrófica. Não! Não é essa a minha percepção do quadro actual em que estamos. Há alguns sinais positivos e dependerá da nossa capacidade de potenciar estes sinais, de reinventar e reintroduzir valores na vida púbica nacional. E esses sinais podemos encontrá-los num crescente número de petizes a irem à escola; num número cada vez maior de jovens a frequentar a universidade – é que todos esperamos que a universidade em Angola, além de formar quadros, seja uma escola cívica, de onde saíam homens não apenas preocupados com «a sua oportunidade», mas com o futuro da sociedade de que são parte. Por conseguinte, sendo importante e saudável que haja um número cada vez maior de jovens a participar na vida pública ou com perspectivas de vir a participar, mais importante é o conteúdo e a substância da participação. Porque se pode dar o caso de haver vários jovens a participar, mas sem que essa participação se traduza em valor acrescentado. Isto porque não vale a pena os jovens participarem se for só para fazerem número ou serem cúmplices de políticas públicas desastradas e que em nada concorram para o desenvolvimento da sociedade em que se inserem, como acontece hoje. Aqui surge um outro problema, esse sim com foros de gravidade, que tem que ver com a excessiva instrumentalização das juventudes partidárias. Acresce-se a isso a falta de espaço e protagonismo que os aparelhos partidários centrais não concedem às denominadas «jotas». Pessoalmente não consigo divisar a acção de alguma juventude partidária que marque diferença, com audácia, dinamismo e irreverência que deve caracterizar a juventude em qualquer parte do mundo. Não pretendo com isto pôr em causa a necessária disciplina partidária. Não! Sei bem qual é a importância deste instituto no quadro do funcionamento dos partidos políticos. Porém, não posso aceitar que a juventude de um partido político, mais ainda dos nossos partidos que se auto-proclamam democráticos, fique absolutamente dependente, sem capacidade de intervenção quer ao nível interno do próprio partido, como ao nível público. E é inaceitável porque, queiramos ou não, é dessa juventude que se esperam os futuros líderes da sociedade angolana. Neste sentido será útil questionarmo-nos: de que modo estes jovens hão-de fazer a diferença se ao nível dos seus partidos não exercitam – nem lhes permitem – a cultura democrática? Não parece nada correcto que a juventude que representa o maior substrato humanos do país, e que traduz, sem dúvida, a maioria de militantes nos respectivos partidos, tenha um papel bastante secundário, subalterno e instrumental na definição das políticas; faz todo o sentido que se dê maior protagonismo aos jovens ao nível das direcções centrais e nacionais nos partidos políticos, pois, acredito que há jovens com muita qualidade e que merecem um papel de destaque. Claro que se trata de um problema de transição «geracional» e de passagem de testemunho (não advogo uma ruptura e afastamento pura e simples dos actores políticos), que deverá ser feita de modo gradual, mas que tem que começar já. Aliás será salutar para o desenvolvimento da nossa sociedade que os jovens deixem de ser meros espectadores e passem a ser também actores porque têm, certamente, uma visão diferente e mais consentânea com a realidade de hoje; além de que não carregam as sequelas e as limitações próprias de quem, muitas vezes não por vontade própria, se submeteu durante toda a vida a sistemas de ditadura interna. A lógica partidária de se criarem benesses e condicionar a afirmação dos jovens à fidelidade cega ao «chefe», à bajulação ou até a habilidade dos oportunistas, que não olham a meios, muito menos se pautam pelos bons princípios éticos, é degradante e empobrece a vitalidade da democracia. Pois a juventude, em qualquer sociedade, é uma reserva vital, que representa a força dinâmica, inconformada e disposta a abrir novos caminhos e horizontes – é essa a atitude e postura que espero que os jovens angolanos tenham. No fundo é preciso que os jovens angolanos se consciencializem da necessidade do aumento do grau de qualificação e da construção de uma carreira profissional exemplar que prestigie a sua participação na sociedade, pois só isso será o garante da sua independência e da capacidade de exigir um espaço e protagonismo baseado no mérito.

Pedro Romão (Estudante de Direito da Universidade Católica Portuguesa-Porto e Membro da Associação Justiça, Paz e Democracia)

1 comentário:

Anónimo disse...

Cara Pedro Romão, parabens pelo seu artigo, amei. Eu sou pós-graduado em Teologia, e atualmente cursando direito. Na Republica F. Do BR. Quanto a presença dos jovens na politica, é relevante. Mais devemos levar em consideração que o sistema de governo do nosso País não ajuda num envolvimento dos jovens na Politica, ate porque não existe eleições para o povo escolher seus seputados,Comissários e governadores. Todos esses são indicados pelo governo, Pois nossa País apresenta uma estruta de governos centralizada. é Necessário descentralizar o sistema de governo e o povo tenha direito de voltar, não somente eleiçoes presidencais. Mais também autoridades secundárias, pois estamos lutando para um ademocracia no País e este sistema tem que ser visto seriamente, ninguém duvida que em Angola vivemos num sistema de ditatorial, isso é horrivel, queremos te liberdade de escolher nossos governantes, isso funcionara partindo do principios das proposta sque cada um mosntrar, tenho a plena certeza que o povo não vai aceitar nehum lider imcopetente, corrupto. O tribunal supremo tem que funcionar com mais rigor na fiscalização, emcaninhar um cassação aos lideres publicos que tem conta sbancaria sno exterior do País.. Concluo meu depoiemto Afirmando que Angola precisa de lidres solidários, lideres que valorizam as pessoas mais do que a dolar, Angola precisa de lidres que tenham medo da e respeito da Nação. Angola precisa de lideres que encarnam o espirito de Agostinho Neto, quando almejava resolver os problemas do povo. Preciso que entre em contato comigo. pr.feliciano@hotmail.com