sexta-feira, dezembro 08, 2006

ROBOTEIROS

Depois de uma ausência forçada, eis-nos de volta para partilharmos o dia-a-dia da nossa terra.
Durante o mês de Novembro andámos por Benguela, Lubango e Huambo. O regresso a esta última cidade, dez anos depois, foi emocionalmente forte e não estávamos preparados. Mas deu para rever amigos e lugares que marcaram a nossa história de vida pessoal nos anos em que sobrevivemos, graças a Deus, às investidas militares do Governo do MPLA e da UNITA, na cidade de Wambu Kalunga.... São outros quinhetos...
Como sugere o título desta crónica, a conversa hoje é sobre os nossos irmãos "Roboteiros", que sobrevivem e vão vivendo graças a sua força física e muita inépcia dos serviços do terminal de cargas do nosso aeroporto 4 de Fevereiro ( Ainda bem, porque seria difícil sobreviver e viver sem emprego e espaço para exercer legalmente a actividade de "Roboteiroa").
Mas que coisa é um "Roboteiro"? "Roboteiro" é o nome que se dá a pessoa que ajuda a transportar uma carga pesada, levando-a à cabeça ou entre o pescoço e os ombros ( no calumbebe ou capepe) segundo a capacidade física e a distância. O "Roboteiro" também ajuda a carregar e/ou a arrumar a carga das paletas ou contentor para o armazém ou camião... No Lubango, o "Roboteiro" é conhecido como "Tio António"! Será da música de Sam Ngwana? ( Tio António quando trabalhava nas obras d'uma plantação, que pertencia ao colono...). No Lobito e Benguela, é conhecido como ajudeiro. Noutros lugares, onde o respito pelas profissões ainda existe, é chamado de "Estivador".
O nome que se dá não está em causa. Entretanto, a forma como os vi trabalhar e fazer dinheiro no terminal de cargas do aeroporto 4 de Fevereiro deixa muito a desejar. Sem exagero, o cenário assemelha-se mais a um assalto e roubo do que a um trabalho honesto. Vejamos:
No último final de semana, o terminal de cargas estava podre de cargas, que nem se quer cabiam nos armazéns e não havia capacidade em meios rolantes para transpotar tanta mercadoria. Resultado: a mercadoria chegou a atinger a placa. Aliás, compreende-se perfeitamente, não estivessemos em Dezembro e num país que ainda vive de importações até de capim para cobrir "Ondjangos". São outros quinhetos...
Desculpem-nos a divagação!!!
Bom, voltemos ao que interessa. Como o processo da alfândega ainda é muito burrocrático, aliás como o são quase todos públicos ou público - privados. Menos mal que a moda dos televisores e das parabólicas nos locais de serviço para ver as novelas da Globo e da Record ainda não chegou a alfândega. Ainda assim, se por azar a tua mercadoria estiver na placa para tira-la de lá até ao caminhão ou carrinha tens poucas opções: pagar a fortuna que eles pedem ou continuares a espera e pagares o frete do camião que também cobra por hora. É preciso lembrar que estamos em época de chuva e pode chover estragando a mercadoria. Se te despachas e pagas, eles vão fazendo o trabalho ao seu rítmo sem poderes reclamar. Caso o faças, eles podem parar sem mais nem menos já que a procura dos seus serviços é incomensurável. Passado esse teste, espera-te o trânsito, que por essa altura do ano e com as obras de ocasião, sabe Deus!!!...
Lá conseguimos uma boa negociação. Passadas algumas horas, tinhamos a mercadoria no camião e começava outro teste de paciência: aguentar e aturar o trânsito... Que são outros quinhetos.
Lembrei-me dos meus tempos de menino no Lobito, onde o preço do ajudeiro variava segundo o estatuto ou apresentação do cliente.
Fica um conselho: se decidires trazer mercadoria ou carga via aeroporto 4 de Fevereiro, por essa altura do ano, prepara o bolso e o coração, porque só pelos "Roboteiros" e o camião fretado podes pagar metade ou mesmo quase o preço de compra da mercadoria.
Até breve!!!
Upindi Pacatolo

3 comentários:

ELCAlmeida disse...

Nesta data festiva queira rceber votos de um feliz e Santo Natal e que 2007 lhe traga tudo o que sempre tem almejado.
Boas Festas
Kandandu
Eugénio Almeida

Anónimo disse...

Thank you very much for your story Costangueiro, translated by Cristina Galhardo, on the italian online magazine Buràn
http://www.buran.it/Materiale/2.html

Angola Xyami disse...

Ola, gostamos imenso do teu canto de reflexoes. Teriamos muito prazer em albergar tuas reflexoes sobre a nossa terra: ANGOLA. Pense nisso!

Visite-nos: http://www.angolaxyami.com