sábado, maio 28, 2005

ACONTECEU EM ANGOLA

Esta crónica foi escrita em Maio de 2000 e publicada no jornal de parede "Encontro", no Seminário Maior do Bom Pastor/Filosofia, em Benguela-Angola. Publico-a aqui sem nenhuma alteração, porque sobre o 27 de Maio de 1977 pouco mudou, ou seja, sabemos tanto hoje como sabíamos há cinco anos. Bom proveito!!!!!!!

ACONTECEU EM ANGOLA!

Kusseteka natural de Bimbe/Bailundo-katapi, filho do soba da aldeia e de mãe desconhecida. Kusseteka teve um sonho no tempo do tuga: ser médico para resolver as mil “mbwandjas” de saúde de seus irmãos. Por benção dos “olondele” conseguiu. Virou grande médico. Era adorado e glorificado por todos os “aldereiros”, porque para cada doença tinha um remédio. Depois de tomar os remédios os doentes ou ressuscitavam ou morriam. Era tal a proeza e o milagre de Kusseteka!
Soba morreu. Kusseteka, único ‘macho’, ficou soba. Habituado a ser único médico a cuidar dos doentes no seu consultório/escritório sem concorrência, nem conselho de ninguém, porque só ele que é o sô doutor... Dias depois mandou partir o ‘ondjango’. Houve descontentamento da parte dos kotas: brincadeira essa de Kusseteka! Foi o primeiro fracasso de Kusseteka.
Mas... kota Nito não quis ficar na massa reagente. Então, organizou sua malta e... pronto a acabar com a brincadeira de Kusseteka e voltar aos velhos tempos! Mas...Kusseteka, por sorte dos santos, tinha uma força maior e conseguiu ganhar e esmagar a revolta. Assim, no dia 27 de Maio de 1977 tomou a palavra e disse a todos “aldereiros”: «não haverá perdão para todos os indivíduos envolvidos na intentona nitista. Eles são uma grande bactéria. O antibiótico é a pena de morte». E ... seus pupilos gritaram: viva kota Kusseteka. Vamos caçá-los e iliminá-los! Viva! Viva!!!
A partir de então até então, reinou um grande recalcamento na aldeia. Ninguém mais ousou abrir o bico. Encerraram-se as portas!
Mas ... os viventes daquela época, hoje querem mostrar que ainda podem falar e exigir justiça. Porém ... os pupilos de kota Kusseteka ‘estão de olho’, pronto a ver e a acertar nas bactérias com o remédio certo. E ... os “aldereiros” vão vivendo aos soluços, sem poder de exigir justiça, salário justo e atempado, escolas, saúde, pão, água, habitação... O medo faz moradia na aldeia. Ninguém quer ter a mesma sorte de kota Nito e dos nitistas... Mas ... pupilos de kota Kusseteka, o medo está a acabar... por isso...!!!
Até breve.
*Qualquer coincidência com a ficção, esta é a pura realidade!
KALOMBONDE